sábado, 13 de dezembro de 2008

DESIGUALDADES SOCIAIS


No acompanhamento dos Jogos Paralímpicos de Pequim foi feita uma entrevista pelo “Jornalismo Porto Net”, a Humberto Santos, presidente da Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes, da qual vou transcrever algumas passagens de forma a demonstrar algumas desigualdades existentes. O presidente da Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes defende que deve ser criada “uma nova cultura, uma nova forma de ver a participação dos cidadãos com deficiência na sociedade”. Salientou que o desporto em Portugal está centralizado no futebol e que todas as outras áreas desportivas são negligenciadas pelos órgãos de comunicação social.

Assim, na referida entrevista a Humberto Santos, quando lhe foi perguntado por que é que iriam atletas apenas a sete modalidades e não às restantes treze, este respondeu: “Temos um longo caminho a percorrer. O desporto em Portugal para as pessoas com deficiência ainda se encerra muito nas associações e organizações da área da deficiência. É necessário dar um passo em frente, o que significa que precisamos que o desporto para as pessoas com deficiência seja mais divulgado e praticado nos clubes desportivos de cada cidade, de cada vila, onde todas as outras pessoas participam também.”

Foi-lhe também perguntado:

No apuramento dos atletas para os Jogos Paralímpicos está também a funcionar um sistema de quotas de género. Em que consiste?

Por exemplo, no atletismo por cada três atletas do sexo masculino tem que participar uma atleta de género feminino. Portugal tem uma diferença substancial de participação na actividade desportiva entre homens e mulheres. Apesar de termos mulheres a praticar desporto em termos regulares, ao mais alto nível e com resultados para Pequim não são tantas quanto isso.

Sente que nos últimos anos tem havido um aumento de competitividade nos campeonatos internacionais e nos Jogos Paralímpicos?

Em cada ciclo paralímpico verifica-se que há um maior crescimento, uma maior qualidade, um maior número de atletas, o que adiciona, obviamente, maiores dificuldades na obtenção de resultados de pódio. Desta forma, contamos encontrar, em Pequim, uma forte concorrência com alto nível de competitividade.

Através deste excerto da entrevista de Humberto Santos, posso concluir que para os atletas paralímpicos, o esforço tem que ser muito maior, um passo de cada vez.

A questão seguinte vai enfatizar o que acabei de dizer:

Quais são as consequências de grande parte do desporto para pessoas com deficiência ser praticado apenas nas organizações e associações a eles dedicadas?

Reduz a oferta relativamente a todos aqueles que querem praticar desporto. Assim, ao reduzir a oferta, reduz o número de participantes e reduz o número de modalidades. Há um salto que nós temos de dar, mas um salto quantitativo. Contudo, só será possível dá-lo no dia em que os clubes desportivos e as organizações que estão ligadas ao desporto em Portugal tenham abertura para incorporar nas suas actividades o desporto para pessoas com deficiência.

Apenas em 1988 a Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes desenvolveu um sistema desportivo na área da deficiência, que encerra em si a preocupação de criar as condições nacionais para a prática regular do desporto por parte das pessoas com deficiência.

A meu ver, Portugal ainda é um país com muitos preconceitos relativamente a pessoas com deficiência. É preciso criar uma nova cultura de inclusão ao nível do nosso país, que se reflicta não só no desporto, mas também no próprio dia-a-dia, nomeadamente nas mais variadas situações, tais como na educação, no emprego, na aferição de espaços públicos, no acesso aos bens e serviços, entre outros. Precisamos que haja uma visibilidade diferente das pessoas com deficiência, bem como o desenvolvimento de processos que visem a efectiva inclusão das pessoas na sociedade.

Na entrevista feita a Humberto Santos, foi-lhe perguntado:

Considera que os Jogos Paralímpicos e as medalhas conquistadas têm um tratamento negligenciado pela comunicação social?

Acho que a Federação tem conseguido captar uma parte substancial da atenção da comunicação social. Contudo, ainda assim considero que mais poderia ser feito. No entanto, se falasse com outros presidentes de federações, que não fosse o futebol, chegaria à conclusão que eles achavam o mesmo que eu. Aquilo que nós comentamos é que há demasiada visibilidade do futebol em detrimento de muito mais do que o futebol e que é feito com resultados, com grande brio e grande entrega. O que queremos é que se difunda regularmente esta realidade desportiva.

O apoio financeiro que a federação recebe é suficiente?

Não é em Portugal como não é em nenhuma parte do mundo que eu conheça. É legítimo que todos queiramos sempre mais, desde que seja numa perspectiva de crescimento, de alargamento, de aprofundamento da actividade desportiva. Todos nos queixamos de falta de recursos, mas acho também que todos temos que ajudar a melhorar este sistema.

Há quatro anos Rosa Mota foi a embaixadora da comitiva de Atenas. Para este ano já há algum nome?

Não, ainda não. Esse assunto ainda não está tratado no seio da Federação. Temos várias hipóteses, incluído a possibilidade de haver mais do que um, mas ainda não há nenhuma decisão objectiva relativamente a esta matéria.

Os estatutos para o primeiro Comité Paralímpico Português foram recentemente aprovados. Qual vai ser o próximo passo?

A decisão por parte da Federação está tomada, aliás há cobertura legal do quadro nacional para o efeito. A Comissão Instaladora do Comité começou a funcionar há relativamente pouco tempo. Estamos à espera de definir o quadro logístico necessário para o lançamento deste novo órgão. O nosso objectivo é que logo após Pequim, em Outubro, sejam criadas as condições para se proceder às eleições para o Comité Paralímpico, para que o ciclo olímpico de 2009/2012 seja já ele dinamizado sob a égide do Comité Paralímpico Português.


Sara Pereira 11º LH Nº 25 in "Trabalho de Educação Física"


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