sábado, 13 de dezembro de 2008

Entrevista a Carlos Lopes

Carlos Manuel C. Lopes, um atleta paralímpico com 40 anos. Nasceu a 8 de Novembro de 1968 em Lisboa e reside actualmente em Alverca.

Carlos Lopes é licenciado em psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Iniciou-se no atletismo dois anos após perder a visão definitivamente e fê-lo durante vários anos participando em 5 Jogos Paralímpicos, 6 Campeonatos do Mundo e em 9 Campeonatos da Europa. Actualmente já não treina tendo-se dedicado à politica, exercendo o cargo de coordenador do Centro de Recursos e de Animação Educativa da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.

1. Há quanto tempo pratica desporto?

Neste momento já não estou a treinar, a minha última prova foi em Pequim, mas fiz atletismo durante 20 anos.

2. Na sua opinião, são dada as condições de treino necessárias aos paralímpicos?

É verdade que, não vou dizer nas condições de treino, mas as condições de preparação desportiva, que possibilitem uma boa participação desportiva em estágio, em competições, não são suficientes. Mas o grande problema do desporto paralímpico não se prende essencialmente com as questões da preparação e da participação desportiva, prende-se sim com, numa primeira fase, com o conhecimento que as pessoas têm de ter de que é possível fazer desporto tendo uma deficiência, podemos começar por ai, primeiro por sensibilizar as próprias pessoas com deficiência que realmente podem fazer desporto, há muitas pessoas com deficiência que não acreditam que podem fazer desporto. Depois é preciso trabalhar ao nível dos professores e das pessoas que estão a trabalhar nas escolas, os animadores e os professores mostrando-lhes que há um conjunto de actividades físicas que as pessoas com deficiência podem fazer. Depois começar a criar condições nos clubes, nos bairros, nas autarquias, nas escolas para que as pessoas possam realmente começar no seu dia-a-dia a fazer natação ou a correr, a praticar uma série de actividades. Eu penso que neste momento, a preparação desportiva e a participação são importantes e nós os atletas paralímpicos não temos as condições necessárias mas o problema é muito mais abrangente do que isso e começa se calhar pelo início.

3. Sente que é dada mais importância aos resultados dos atletas olímpicos em relação aos resultados obtidos por atletas paralímpicos?

Isso é evidente, mas também temos que perceber que o desporto paralímpico é uma realidade relativamente recente. Os primeiros jogos paralímpicos realizaram-se na década de 60, Portugal só participa pela primeira vez nos Jogos Paralímpicos, com uma pequena equipa em 1972 e só participa regularmente em Jogos Paralímpicos a partir 1988. Também é verdade que só a partir de 1985 é que há um estatuto de alta competição para os atletas com deficiência e que os primeiros contratos de programa, uma espécie de acordos em que o governo dá às federações uma verba para a preparação e participação desportiva dos atletas, que a nossa federação estabelece com o governo surgem apenas em 1986. Ou seja, estamos a falar de uma realidade que é ainda relativamente recente. É também verdade que associado à deficiência ainda há um conjunto de crenças e estereótipos negativos no sentido que aquilo que é feito por parte das pessoas com deficiência tem menos valor. Há aqui um conjunto de questões que fazem com que o desporto paralímpico ainda não tenha a visibilidade e a credibilidade e não seja tão valorizado quanto é o desporto olímpico. Mas eu estou convencido que, a longo prazo, caminharemos também para alguma notoriedade do desporto paralímpico. E também é verdade que sinto que desde os meus primeiros Jogos Paralímpicos em Barcelona (1992) para cá sente-se uma diferença muito grande. Sinto que hoje as pessoas me reconhecem na rua, me vêm cumprimentar, me vêm felicitar e que a televisão já dá muito maior atenção aos atletas paralímpicos do que dava por exemplo em Barcelona ou em Atlanta em 1996.

4. Na sua opinião o desporto contribui para a integração das pessoas com deficiência na sociedade?

Sim, claramente. A prática de uma actividade física é importante para todas as pessoas, porque há uma série de estudos que demonstram que há benefícios, quer ao nível físico, quer ao nível psicológico, quer ao nível da participação social, isto para todas as pessoas, quer tenham deficiência ou não. Ao nível da inclusão social, o facto das pessoas poderem ter um grupo de amigos, de poderem mostrar aquilo que são realmente capazes, de superar obstáculos, de ultrapassar barreiras, é um sinónimo de inclusão social. No desporto as pessoas valem por aquilo que fazem e não por aquilo que não conseguem fazer e isto é importantíssimo ao nível da inclusão social.

5. Na sua opinião a prática desportiva contribui para a qualidade de vida de uma pessoa com deficiência?

Muito, muito. Em todos os níveis, ao nível físico, ao nível psicológico e ao nível da inclusão social. No caso das pessoas com deficiência o desporto paralímpico é ainda mais importante ou ainda mais relevante porque, se pensarmos por exemplo ao nível físico, a actividade física faz com que as pessoas tenham melhor desenvolvimento motor. No caso das pessoas com deficiência visual, por exemplo, o desporto tem grandes vantagens ao nível do desenvolvimento do equilíbrio, da orientação e da mobilidade. Portanto a nível físico há ganhos significativos com uma boa prática desportiva. Depois a nível psicológico, nós sabemos que o desporto tem uma componente muito grande ao nível da auto-estima, gostarmos de nós próprios, de nos valorizarmos, no controlo da ansiedade e do stress. Portanto há aí um conjunto de factores ao nível psicológico em que o desporto tem uma influência muito grande.


Patrícia Patrocínio 12º CT1 nº21 in "Trabalho de Educação Física"

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